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Dia do Índio? Papel da escola é desconstruir visão estereotipada sobre esses povos

Mater tem projeto de resgate e valorização da cultura indígena de Guarulhos; integrantes da aldeia Filhos Dessa Terra participam de debates e reflexões com os alunos

O Dia do Índio, comemorado em 19 de abril, faz referência à data do Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, realizado no México, na década de 1940. Na ocasião, foram discutidas pautas importantes da luta dos povos indígenas, como a necessidade de políticas públicas para garantir a preservação da sua cultura que, desde a colonização, vem passando por um processo de apagamento.

“No entanto, a forma como esse dia acabou sendo trabalhado reforça a ideia de que o indígena é uma figura folclórica, mitificada, estereotipada, aquele indivíduo de cocar e tanga, que ficou no passado e não é civilizado”, diz Luiz Gerardi Junior, coordenador do SOS Mater, o Serviço de Orientação Social do Colégio Mater Amabilis. “Esse tipo de abordagem traz também uma generalização desses povos, como se todos fossem iguais, enquanto, na verdade, eles possuem uma diversidade cultural gigantesca. Só no Brasil, atualmente, são quase 300 línguas faladas pelos diversos povos indígenas.”

O coordenador cita o escritor indígena Daniel Munduruku — que, inclusive, já esteve no Mater. Este aponta que o dia poderia ser renomeado como Dia da Diversidade Indígena, por exemplo, e usado para uma reflexão mais profunda sobre essa temática.

Segundo Luiz, a própria Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) estabelece que essa desconstrução da figura do indígena como algo folclórico deveria ser intensificada nas escolas, para que trabalhem temas que estão na Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, proclamada pela ONU em 2007. “É uma data muito importante, mas precisa ser ressignificada. É na escola que essa desconstrução precisa ser feita”.

Resgate e valorização da cultura indígena

O Mater, como escola associada da Unesco, vem promovendo essa mudança desde 2018. Luiz conta que, em 2019, quando a Unesco declarou o Ano Internacional das Línguas Indígenas, o Mater organizou um grande evento, voltado para a reflexão sobre o tema. Na ocasião, foi lançado um projeto, por meio do SOS Mater, de resgate e valorização da cultura indígena e afro-brasileira de Guarulhos.

“Fizemos uma busca das etnias presentes em nossa cidade, como elas estão, como vivem e começamos a trabalhar junto à aldeia Filhos dessa Terra, no bairro do Cabuçu, em Guarulhos. Representantes de algumas das etnias dessa aldeia vieram para a escola, não só no Abril Indígena, mas durante o ano, para participar de discussões sobre questões sociais, culturais e ambientais”, lembra o coordenador.

Interações e lugar de fala

Neste ano, mesmo com a pandemia, o projeto segue. Em abril, a ideia é realizar a semana da diversidade dos povos indígenas e fazer remotamente uma interação dos indígenas, principalmente da etnia Kaimbé, que é o grupo com maior representatividade em Guarulhos, com os alunos do Mater, da educação infantil ao ensino médio. “Os estudantes poderão levar seus questionamentos para serem respondidos pelos próprios indígenas, que têm o lugar de fala”, destaca Luiz.

Ele ressalta que a cultura indígena precisa ser valorizada, pois faz parte da nossa formação, e o objetivo é mostrar para os alunos que eles não ficaram no passado, mas estão aqui no presente. “Eles estão vivendo, resistindo, trabalhando, estudando, sem que para isso precisem abrir mão de seus hábitos e herança cultural. Eles podem ter o seu carro, celular, computador e manter os seus costumes. Por exemplo, uma pessoa de origem nipônica não precisa deixar sua identidade ou mudar suas tradições por viver em São Paulo. E por que o indígena tem que deixar de ser indígena por conta disso?”, questiona. “Projetos como esse visam desconstruir essa imagem e trabalhar o 19 de abril como uma forma de reflexão sobre esse processo de resistência e sobre tudo o que ainda precisa ser feito para garantir os direitos desses povos.”

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